"Inapelavelmente, há que se valorizar a palavra, na sua mais elementar forma, como na essência da perfeição do seu significado. Revigorá-la é um imperativo. Com o júbilo da coragem e do amor.
A palavra emerge. Viva. Desentranhada dos pensares de quem faz poesia. (Cavalcanti Barros)

"A poesia é a música da alma e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais". (Voltaire)

"A poesia está mais próxima da verdade vital do que a história". (Platão)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Passeio com meu pai

José Alberto Costa




Sonhei que meu pai
me levava a passear,
por campos diferentes
daqueles que percorríamos,
em nossa terra de muito sol.
Local frio, de luz mortiça,
um entardecer parado no tempo,
que não deixava a noite chegar.

Eu muito pequeno, ele muito grande
como sempre me pareceu a vida inteira.
Grande na estatura, nas atitudes.
Eu, um pigmeu que mal conseguia
acompanhar seu passos firmes.

Só o chapinhar das nossas botas,
sobre a relva úmida, quebrava
o silêncio daquele momento.
Pensamentos sincrônicos
substituíam palavras
e os ensinamentos
iam diretos ao coração.
Passei a admirá-lo ainda mais.
Quando sumiu, senti-me abandonado
na fria solidão de um vazio imenso,
sem o calor de sua presença.
Acordei criança perdida,
de olhos úmidos, buscando o pai.


Copyright © 2010 by José Alberto Costa
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Evidências

Sandredy Marzo





Já dei pulos de alegria,
já corri atrás de borboletas,
já deixei correr a solta fantasia,
dançando ao som de uma trombeta...

Já subi a mais alta das montanhas,
neste meu imaginário categórico:
colhi estrelas, lua cheia... mil façanhas,
mas, não pulei do trenzinho alegórico.

Hoje, sou apenas um outono de evidências,
no entanto, sou forte e leve ao mesmo tempo.
Me sufoca este mundo de incertezas,
me apoia o teu olhar,
quando me lembro.


Copyright © 2010 by Sandredy Marzo
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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sonata ao desejo em tom maior

Lou Correia





Noite escura, quente, abafada.
Meio às paredes cheias de mormaço,
palavras roucas presas na garganta,
cansada, tento adormecer,
livrar-me de tanto cansaço.

Olhos semicerrados,
esperando o sono chegar...

Na densa escuridão, miragens:
fagulhas de paixão bailam sobre mim,
incendeiam meu corpo,
(qual fogueira de desejo);
impiedosas me consomem,
coreografando sensações em ebulição.
Meus lábios, frementes, sedentos,
sentem o gosto de teu beijo...

Ah, é sempre desse jeito, sempre!
Tudo se repete, tudo,
(parece até um castigo).
Uma vez mais essa chama ardente
invade-me,
incendeia-me,
queima-me toda, assim,
sempre assim,
toda vez que sonho contigo!

Copyright © 2010 by Lou Correia
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terça-feira, 22 de junho de 2010

Anonímia

Dydha Lyra


Photo Copyright © by Angélica Lyra

Esse cheiro verde... de lembranças
embaçadas de manhãs lajenses,
desperta a memória sonolenta.

Pedras, enlodadas de Rio Canhoto,
formam um colar musguento de pérolas verdes,
na cabeceira do meu buliçoso rio,
que segue alegre, saltitante, cantando...

Uma brisa fria te acaricia
e norteia teu caminhar
em busca do oceano...
onde, com certeza,
morrerás anonimamente.

E eu, meu rio,
se não te encontro em meu leito,
(nessas horas em que me invades e me tomas),
morro encharcado,
no pântano movediço das lembranças,
que em mim se fez,
desde o alvorecer.

Copyright © 2010 by Dydha Lyra
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segunda-feira, 21 de junho de 2010

A bebida do amor

Valderez de Barros






Às vezes, quando me sinto
Solitária, desesperançada,
Procuro, numa taça de vinho,
Desabafar minha alma sofrida.

Entontecida e entorpecida,
Vislumbro, numa névoa,
Tua boca, que me convida
A um apaixonado beijo.

O vinho, a bebida do amor,
Desperta meus desejos mais íntimos,
Envolve meus pensamentos
Numa nuvem de prazerosa ilusão...

Fazendo com que eu me sinta,
Numa espécie de magia,
A mulher ardente e lasciva,
Que eu já fui um dia...

...E viajo nesse sonho louco,
Porém de uma doçura inebriante,
Que traz pra pertinho de mim
O meu imaginário amor.

Copyright © 2010 by Valderez de Barros
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Exaltação ao vinho

Arlene Miranda
*Soneto classificado com Menção Honrosa, dentre as 70 produções poéticas inscritas, no 1º Concurso Vinho & Poesia, realizado pela Comercial Vinho & Poesia e a APROVALE -Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos(RS), e divulgado no Filó italiano, realizado no Hotel Villa Michelon, no Dia Estadual da Poesia.



Para afastar a dor eu bebo vinho,
Aquele tinto de buquê suave,
Entre os lençóis de seda em desalinho,
Me vem direto de longínqua cave.

Companhia melhor não pode haver
Que a fina taça de um sagrado vinho.
Brindando à vida até o alvorecer
Põe borbulhas de amor em meu caminho.

Com o delicado vinho eu brindo então
O amor que sinto em minha solidão.
E exalo, assim, o odor de mil florais.

Me embriago, sem dor nem nostalgia,
E me perco em sublime fantasia,
Lembrando os meus amores desiguais.

Copyright © 2010 by Arlene Miranda
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terça-feira, 8 de junho de 2010

Fantasma

Lys Carvalho



Tu somes no nevoeiro de uma tarde fria,
como um passarinho volta para o ninho.
E eu, entristecida, não consigo esquecer
tuas juras de um amor puro, nas tardes
frias e nebulosas dos nossos momentos.

O tempo não apagou a dor nem a saudade.
Em cada momento,
um desejo irresistível de que voltes.
Aquela imagem do teu retrato na parede
enlouquece-me, deixando viva tua presença.

Quantas lembranças ainda resistem,
nas desilusões de um tempo ido.
Mas, a saudade teima em relembrar,
como se nunca adormecesse.

Desperta-me da nostalgia
que assombra meus dias e minhas noites,
como um fantasma vivo e impertinente.
Faze meu coração sorrir.

Copyright © 2010 by Lys Carvalho
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