"Inapelavelmente, há que se valorizar a palavra, na sua mais elementar forma, como na essência da perfeição do seu significado. Revigorá-la é um imperativo. Com o júbilo da coragem e do amor.
A palavra emerge. Viva. Desentranhada dos pensares de quem faz poesia. (Cavalcanti Barros)

"A poesia é a música da alma e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais". (Voltaire)

"A poesia está mais próxima da verdade vital do que a história". (Platão)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Anjo-criança

José Alberto Costa


Fomos pescar,
meu anjo da guarda e eu,
numa outonal tarde sem sol.
Aguardava o peixe
sem qualquer pressa,
ele brincava na areia,
então, descobri meu anjo-criança,
cabelos louros, esvoaçantes,
sem aquelas asas tradicionais.
Não era um anjo,
uma “anjinha” ainda criança,
para guardar a vida
de um irresponsável como eu.

Veio correndo,
sentou-se no meu colo,
ensinou-me os segredos da pesca.
Não pesca de peixes,
pesca de almas desgarradas
- sua tarefa ao meu lado.
Falou-me de Deus e dos homens,
ensinou-me a perdoar,
amar, respeitar, ser bom.
Partiu, deixando-me só
com os mistérios da vida
revolvendo minha cabeça
e um grande desejo
de mudança interior.

Copyright © 2010 by José Alberto Costa
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quinta-feira, 25 de março de 2010

Ansiosa espera

Arlene Miranda


Chove forte, e a espera é só tristeza.
Já arrumadas as taças e o vinho,
A pobre vela continua acesa,
Sobre a toalha de tão puro linho.


As rosas perfumadas sobre a mesa,
De alguém que espera com carinho.
No coração palpita a incerteza,
Escutando o vinil tocar baixinho.


Dois guardanapos com perfeitas dobras,
Solitários, na mesa a esperar,
Quais delicadas e bonitas obras.


No abandono, o choro vem baixinho,
E o pobre ser se põe a lamentar:
– É muito triste se jantar sozinho!


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terça-feira, 23 de março de 2010

Se me deixares

Dydha Lyra




Não me deixes nunca, meu amor!
Sem ti, serei folha solta
ao sabor do vento outonal,
colorindo o chão desfolhado d’alma.
.
E o mar...
não será verde, nem azul,
apenas cinza, cinza...
Gaivotas tristes sobrevoarão sob a luz débil
do ocaso em que me encontro.
.
O que farei dos meus dias,
(sempre tão iguais),
se me deixares?
.
Por favor,
não me deixes nunca, meu amor!
.
Que direi aos meus olhos,
quando buscarem pouso
no vazio da esperança de voltares?
.
Minhas mãos, tão esquálidas e nervosas
no adeus, na despedida,
mostrarão que és tu,
minha amada,
minha querida,
a força de meus versos,
a razão de minha vida!

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Pequeno raio de luz

Valderez de Barros



Já no entardecer da minha existência,
Quando a luz do sol já vai se escondendo,
Quando a primavera e o verão já vão longe,
Quando o outono prenuncia o frio do inverno,
.
Eis que um pequeno raio de luz
Se insinua em meu ser,
Trazendo a poesia
Para o meu viver...
.
E eu volto a sentir o aconchego
De todas as estações Juntas,
Revigorando meu coração,
Enriquecendo meu espírito,
Fortalecendo minha alma;
.
Dando-me novas esperanças
De um caminho iluminado
Pela beleza que ela me faz ver
Em todo o esplendor da natureza...
.
Em todas as emoções que se derramam,
Que explodem, frementes, do meu peito,
Em forma de versos que dizem um pouco
Do que está preso dentro de mim.
.
Bendita poesia!
Bendita luz,
Que voltou a brilhar
No meu solitário caminhar!

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Pensamento

Sandredy Marzo



Dentro de mim aquele pensamento
intruso, impróprio, dissimulado,
chegou atentando como um forte vento,
convidando ao caos o coração dilacerado.
.
Ah! Estranho e sórdido pensamento,
descompassando o coração muito ferido
fizeste das minhas horas desalento,
carregando de torpor os dias idos...
.
Desafeto e infame pensamento,
ao deparar-me contigo, estremeço.
Desfaleço em meus ais e sem lamento,
ao me entregar a ti, eu enlouqueço.
.
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segunda-feira, 1 de março de 2010

Finitude

José Alberto Costa




Qual velho moinho,
pás abertas ao vento,
meus pensamentos giram
ora velozes, ora tão lentos
que posso desembarcar deles
a qualquer momento,
como dos antigos bondes
da distante juventude.

.

Quando velozes,
entontecem-me,
turvam-me a visão,
perco-me no tempo,
caio num vazio sem luz,
sem referências,
caos,
finitude,
o nada...
.

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