"Inapelavelmente, há que se valorizar a palavra, na sua mais elementar forma, como na essência da perfeição do seu significado. Revigorá-la é um imperativo. Com o júbilo da coragem e do amor.
A palavra emerge. Viva. Desentranhada dos pensares de quem faz poesia. (Cavalcanti Barros)

"A poesia é a música da alma e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais". (Voltaire)

"A poesia está mais próxima da verdade vital do que a história". (Platão)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Que amor é esse?

Lys Carvalho




Não sei que amor é esse
que me deixa ansiosa e carente,
sempre à tua espera, na esperança
d’uma palavra amiga e carinhosa.

Não sei que amor é esse,
cujo silêncio transforma-me,
nos momentos de solidão,
nos meus sonhos evasivos.

Não sei que amor é esse,
que se perde com o passar do tempo,
que deixa sangrar um coração
que pulsa forte e acelerado.

Não, não sei que amor é esse,
que me deixa enlouquecida com a dor
de uma saudade infinita e pululante ,
que punge todo meu ser e minh’alma.


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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tempestade

Lou Correia


Poetrix


Remo contra um mar revolto,
luto para não me afogar,
sob impiedosas ondas de solidão.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rio Canhoto II

Dydha Lyra




Calmo estás agora,
meu Rio Canhoto,
e de ti já não tenho medo.

Sabes, meu rio,
dia desses,
sob um céu plúmbeo e friorento,
saíste de tua habitual placidez.

E, assim como nós humanos,
quando tomados de cólera e desatinos,
cometeste inconsequentes temeridades,
arrastando, de um jeito torpe e incônscio,
tudo que obstruía
teu caminhar de rio...

E mostraste o quão forte és.
Deste-nos a certeza
de teu temperamento cíclico
e incognoscíveis momentos.

Ademais,
não te condeno, meu rio,
também sou assim...
Quando foste agredido em teu leito maior,
assoreado pela ganância descomedida do progresso,
devolveste com a mesma moeda,
e revelaste a face quase desconhecida,
ou esquecida,
de tua indignação,
ao longo de todos esses anos.

Tu,
assim como eu, meu rio,
quantas e tantas vezes nos reprimimos,
ao sermos envilecidos em nossos mais primitivos
desejos de liberdade...

Transformamo-nos, então,
e ficamos, destarte,
transfigurados,
a cometer
os mais incoerentes desvarios...

(São próprias da natureza humana
essas singularidades.)

Por tudo isso,
recebas, meu rio,
minha compaixão,
e me aconchegues outra vez no teu leito,
sobre tuas pedras mornas,
que exalam de tuas fendas musguentas
um hálito ainda matinal,
atenuado no entardecer
lânguido,
lajense.

Sou, pois,
teu irmão,
teu viço,
teu remoinho,
tua tiborna;
teu espírito cristalizado
reluzente sob o sol
e sobre as pedras,
de dualismo transparente
nos olhos d’agua da mãe serra;

ou, simplesmente,
redemoinho barrento,
turvo,
impenetrável,
na tua infatigável
ira de ser.

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Eu sou a vida

Cavalcanti Barros




Não se enganem, sou a Vida.
Magicamente contida
num corpo que Deus me deu.
Tudo simples, sem mistério:
corpo morre. Cemitério.
Vida não morre. Sou eu.

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Tributo ao meu viver

Arlene Miranda





A vida, para mim – hão de saber –
É u’a jornada posta em dor e gozo.
Rendendo um tributo ao meu viver,
Vou seguindo cansada e sem repouso.

Porém, mesmo envolvida em desengano,
Persisto em sorver o bem precioso.
Todos os meus erros, todos os meus enganos,
Não afetaram em mim tudo o que ouso.

E no momento em que a velhice avança,
E de mim se aproxima a dura morte,
Entrego-me ao meu fim, enternecida,

Agradeço os meus dias de bonança
Enaltecendo, enfim, a grande sorte
Duma longa existência percorrida.


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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Luar sobre Pajuçara

José Alberto Costa





Começo de noite,
praia de Pajuçara.
Olhos na lua cheia
que vinha nascendo
bem devagar,
preguiçosamente,
deixando um rastro prateado
no espelho morno
da água salgada,
uma longa estrada
do horizonte aos meus pés,
porto das ondas
que chegavam cansadas
e morriam lentamente.
Distante, muito distante,
o cantar triste
da senhora das águas,
chorando seus amores
perdidos no mar.


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