"Inapelavelmente, há que se valorizar a palavra, na sua mais elementar forma, como na essência da perfeição do seu significado. Revigorá-la é um imperativo. Com o júbilo da coragem e do amor.
A palavra emerge. Viva. Desentranhada dos pensares de quem faz poesia. (Cavalcanti Barros)

"A poesia é a música da alma e, sobretudo, de almas grandes e sentimentais". (Voltaire)

"A poesia está mais próxima da verdade vital do que a história". (Platão)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Ouve-me!

Cavalcanti Barros




Encontro-me Aqui.
Caminho a meio.

Nas dobras do receio
vejo olhares tortos
me compondo em fugas
e me desenhando em frágeis rugas
de desejos mortos.

Encontro-me Aqui,
vertendo o meu Agora,
alinhavando instantes.

Alheio à outra face
que define a Vida
e à face nua
do entender dos outros,
tão dessemelhantes.

Encontro-me Aqui.
Ante o doce-amargo
desse Teu sorriso.
Buscando ser o Ser
do cerne da Questão
que faz do Homem
Tua Criação,
que faz das portas do Inferno,
o Paraíso.

Copyright © 1988 by Cavalcanti Barros
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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Da janela

Dydha Lyra




Horas a fio, fico a olhar desta janela...
Vejo o céu, o mar,
vem a tarde, a noite e as estrelas,
e tu não chegas, meu amor!
Nem sinto teus passos
rentes ao manto negro da solidão
(que me agasalha).
Não,
não voltas,
nem trazes luar nas mãos.
Um vento frio gela minh’alma,
congela meu grito,
e teu nome, agora, petrifica-se
no eco ensurdecedor notívago,
alastrando-se em meus olhos
tristes e marejados,
(perdidos e inscientes de tua ausência).
Ah, só pela força de teus beijos e afagos,
ousaria sobreviver minha paixão!
E salvaria meus versos neste canto,
quiçá um lamento, talvez uma canção,
balada de um louco que ri,
que chora,
e, pouco a pouco,
preenche o vazio, a dor,
com a mais densa solidão.
E foi por anoitecer à espera,
que te vi melhor por entre estrelas,
mostrou-me, assim ,
o coração!


Copyright © 2011 by Dydha Lyra
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sábado, 22 de janeiro de 2011

Mulheres que perdoam

Valderez de Barros





Há mulheres que amam,
Mesmo com os corpos doloridos,
Cheios de marcas deixadas
Por aqueles a quem deram seus amores.

Há mulheres que têm suas almas mutiladas
Por tantos maltratos, mas, mesmo assim,
Vivem juntando os pedaços
Dilacerados dos seus corações...

Que, mesmo machucadas, perdoam,
Para continuarem a viver
Com os seus amados...carrascos.


Copyright © 2010 by Valderez de Barros
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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Precisão

Lys Carvalho





Com que precisão tu atendes ao meu chamado,
nas horas mais inusitadas em que meu coração
grita por desejos de um amor falido!
Não rejeitas meus carinhos
(mesmo não sendo teus)
quando, no silêncio da noite, toco em teu corpo
ansioso de desejos acumulados de uma paixão,
que corre fria nas veias,
numa compulsão angustiante.
Sempre abres uma brecha , sensibilizando-te,
quando deverias rejeitar-me a cada minuto.
Esse amor é inusitado, fiel e doloroso!.
Foge de mim.

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Divino amor

Arlene Miranda





O teu amor que move a minha vida
Compensa-me a pena de viver.
Contemplo o teu olhar, enternecida,
Que lembra o Céu azul ao entardecer.

A agonia, amor, que experimentamos
Somente em lágrimas pode ser descrita.
Qual o amargor do fel que já passamos,
Mas sem ferir o amor que em nós habita.

Vamos vencendo o nosso mar de pranto,
Tentando conservar o que ainda temos,
Sem esquecer que nos amamos tanto.

Lembro feliz quando nos abraçamos,
Prova cabal do quanto nos queremos,
Imensa força com a qual caminhamos.


Copyright © 2010 by Arlene Miranda
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É ELA!

Dydha Lyra






E por alguns instantes nos olhamos.

Surgia, então,
o reencontro de nossas almas,
adormecidas na placidez do silêncio de séculos.

Reconheci aquele brilho
(dos seus olhos negros e instigantes)
e senti o mesmo calor em suas mãos...
Carecia, agora, de ouvi-la melhor,
todos meus sentidos foram cúmplices,
confirmando:
É Ela!

Abraçamos-nos.
O reencontro vestiu-se
de desejos, lembranças
e saudades de um tempo que se foi...
De um lugar, um olhar,
que só nós, ali, reconhecíamos.
E disse, baixinho, ao seu ouvido:
Abrace-me,
cheire-me,
beije-me,
guarde-me em si.
Jura-me,
nunca mais esquecerá de mim?

Hoje guardo dela
os olhos negros, brilhantes e profundos,
a fragrância de sua pele,
o frescor de seu sexo úmido,
que me acolheu
com a ânsia de desejos adormecidos
(e perdidos na memória do corpo).
O meu, agora em sua fase outonal,
guarda seu verão,
que trouxe luz, frescor e calor,
inundando de felicidade e paz
meus amanheceres...


E nunca mais fui o mesmo!


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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Milagre da luz

José Alberto Costa





Pela fresta da velha janela,
o sol inundou a sala
carente de luz e cores.
Tudo ganhou vida.
Mesa, cadeiras, sofá
voltaram ao antigamente.

Nos retratos desbotados,
pessoas esquecidas,
nas paredes rachadas,
sorriram felizes
umas para as outras.
Barulhos e cheiros da praça
acordaram o gato da estampa
do porta-joias inútil
e ele mexeu os bigodes.
Sons desafinados,
do antiquíssimo piano,
ressuscitaram a bailarina
sobre a caixinha de música,
que alegremente ensaiou
passos mais ousados.
E o mundo pareceu em paz!


Copyright © 2010 by José Alberto Costa
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